A pesquisa Ipsos-Ipec divulgada em 12 de junho revela que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta dificuldades persistentes para conquistar a aprovação da maioria dos brasileiros. O levantamento mostra que metade dos evangélicos (50%) reprovam Lula e veem sua gestão como ruim ou péssima, sendo que 31% dos entrevistados consideram regular. Entre os católicos o índice é de 40%. Já a aprovação entre os católicos é mais expressiva (32%), contrastando com o ceticismo evangélico.
De um modo geral, 43% dos brasileiros consideram a atual gestão ruim ou péssima, enquanto 25% a classificam como boa ou ótima. Outros 29% a enxergam como regular. Trata-se da segunda vez, desde o início do terceiro mandato do petista, em que a avaliação negativa supera a positiva.
Esse cenário, para o pastor Delano Maia, presidente da Igreja Assembleia de Deus Fonte de Vida, em Vitória–ES, é resultado direto do que ele classifica como “deterioração generalizada dos indicadores econômicos, sociais e políticos”.
Em sua visão, a insatisfação também decorre de “recorrentes e já sistematizados escândalos de corrupção envolvendo estatais brasileiras e o INSS”, o que compromete a confiança popular na administração federal.
Por outro lado, o presbítero Ariovaldo Ramos, da Comunidade Cristã Reformada em São Paulo, vê um fenômeno diferente. Segundo ele, “os evangélicos, em sua maioria, têm se mostrado impermeáveis às ações do governo, em grande parte devido às fake news que são pródigas na bolha evangélica”.
Para Ramos, a desconfiança em relação ao governo Lula está fortemente ancorada em discursos morais distorcidos, amplificados por conteúdos falsos disseminados nas redes sociais.
Divisões religiosas e econômicas
Ariovaldo Ramos acredita que o governo falhou ao não perceber que o movimento evangélico construiu uma nova cultura no país. “Rubem Alves dizia que cultura é um jeito particular de ser gente”, lembra Ramos. Ignorar essa forma específica de ver e viver o mundo, segundo ele, foi um erro estratégico na comunicação governamental.
Delano Maia, por sua vez, atribui papel central às redes sociais na formação da opinião pública contrária ao governo. Para ele, as redes “assumiram papel essencial na disseminação de informações”, sobretudo diante do que classifica como “distorções e omissões da mídia tradicional, organizada em consórcios”.
Ele também denuncia uma “perseguição implacável aos veículos de comunicação independentes”, que vê como um esforço orquestrado de censura. Entre os fatores socioeconômicos, a pesquisa mostra que 59% dos que ganham mais de cinco salários mínimos rejeitam o governo, enquanto entre os que vivem com até um salário mínimo, a aprovação sobe para 33%.
A divisão é nítida também pela escolaridade: entre os mais instruídos, 51% desaprovam a gestão e, entre os menos escolarizados, a taxa cai para 36%. Esses números sugerem que os pilares do apoio a Lula continuam firmes nas camadas populares, enquanto há resistência entre as classes médias e altas.
Regiões e perfis demográficos reforçam contraste político
Geograficamente, o Nordeste ainda representa o principal reduto de apoio ao presidente, com 38% de avaliação positiva. No Norte e no Centro-Oeste, a rejeição atinge 50%, refletindo a queda da influência do governo em regiões que já demonstraram preferência por pautas conservadoras nas últimas eleições. Em cidades com até 50 mil habitantes, a aprovação de Lula é de 31%, enquanto em municípios de médio porte (entre 50 mil e 500 mil habitantes) o número cai para 22%.
A análise por sexo e idade também reforça a fragmentação. A rejeição ao governo é maior entre homens (48%) do que entre mulheres (39%). Entre os que têm entre 45 e 59 anos, a reprovação cresceu de 37% para 45%. Já em relação à raça, 47% dos que se identificam como brancos desaprovam a gestão, enquanto entre pretos e pardos a taxa é de 40%.
Visões opostas sobre os caminhos do país
As interpretações contrastantes de líderes evangélicos sobre o mesmo fenômeno revelam a complexidade do cenário político atual. Enquanto Delano Maia vê um governo fracassado em todos os aspectos, “não há, a meu ver, nada que mereça ser elogiado”, diz, Ariovaldo Ramos enxerga obstáculos criados pela desinformação e por uma cultura evangélica que o governo ignorou. Ramos afirma que sua igreja local, bastante ativa politicamente, mantém uma postura favorável à gestão atual.
As avaliações mostram que o Planalto precisa lidar, simultaneamente, com problemas objetivos como inflação, juros altos, segurança pública e escândalos, assim como desafios subjetivos, tal qual as narrativas morais e a resistência cultural.
A travessia até as próximas eleições exige mais do que programas sociais, requer habilidade política para enfrentar tanto os dados da realidade quanto as percepções fragmentadas de um país que continua dividido, inclusive entre seus fiéis.
Pesquisa Genial/Quaest
No início deste mês de junho, uma nova rodada da pesquisa Genial/Quaest revelou uma mudança significativa no apoio religioso ao governo Lula. Pela primeira vez desde o início do mandato, a maioria dos católicos ouvidos desaprova o presidente: 53% manifestaram rejeição, enquanto 45% ainda aprovam sua gestão.
O dado chama atenção por marcar a perda de apoio em um segmento tradicionalmente mais simpático ao petista. Há apenas dez meses, Lula contava com 60% de aprovação entre os católicos.
Entre os evangélicos, o cenário é ainda mais desfavorável. A rejeição permanece alta: 66% desaprovam o governo, contra apenas 30% de aprovação.
Fonte: Comunhão
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