A chegada de um filho costuma provocar uma mudança silenciosa, porém radical, no modo como se vê o mundo, o tempo e até a própria história. Embora o nascimento de uma criança seja muitas vezes previsto no calendário, a paternidade, em si, continua sendo uma travessia imprevisível. Para muitos homens, ela reconfigura não só a rotina, mas o sentido das responsabilidades e da espiritualidade vivida dentro de casa.
O médico Adriano Faustino, que integra a Oitava Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte (MG), autor do livro Cientificamente Divino (Editora Vida), vive essa experiência de forma intensa. Atuando na medicina integrativa e funcional e com uma longa trajetória como professor de Escola Bíblica Dominical, ele afirma que a paternidade tem lhe ensinado diariamente sobre limites, cuidado e dependência de Deus.
“Foi uma alegria tremenda. No primeiro momento eu nem acreditei, porque a gente viveu uma situação muito peculiar”, diz ele ao lembrar que a gravidez aconteceu poucos dias depois da retirada do DIU de sua esposa. A notícia chegou antes do previsto, com a surpresa que costuma marcar o início de tantas jornadas humanas. “Depois que fez o ultrassom, que eu vi já o coraçãozinho bater, aí a ficha caiu”, conta.
Quando o tempo desacelera
Entre plantões e atendimentos em consultório, Faustino mantinha uma rotina intensa. Isso mudou após o nascimento do filho. “Era muito comum eu ir para a clínica cedinho e voltar 8 horas da noite. Eu parei de fazer isso. Agora eu tenho sempre momentos a mais para ficar com o meu filho”, conta. Ele decidiu ajustar os horários, priorizando a presença e o tempo de qualidade. Até mesmo o sono, que nos primeiros meses de um bebê tende a se tornar caótico, passou a ser encarado com alegria. “Acho que uma das maiores alegrias que já tive foi acordar de madrugada e dar de mamar pra ele, e ele nos meus braços mamando”, compartilha Adriano.
A experiência vivida por ele encontra respaldo em dados do Ministério da Saúde, que demonstram que a participação ativa do pai no início da vida do bebê contribui significativamente para o desenvolvimento emocional da criança e para o fortalecimento dos vínculos familiares. O envolvimento paterno está ligado a menores índices de estresse materno, melhor desempenho escolar e maior estabilidade emocional ao longo da vida.
O peso e a leveza da herança
Mais do que prover ou proteger, muitos pais reconhecem que sua maior tarefa é formar caráter. Faustino não enxerga a infância do filho Pedro como uma zona de conforto, mas como uma fase crucial para aprender a lidar com a frustração. “Para ensinar meu filho, eu tenho que ensiná-lo a lidar com as dificuldades da vida, porque, se eu não ensinar, a vida vai ensinar de uma maneira muito mais dura pra ele”, afirma.
Ao refletir sobre o tipo de legado que deseja deixar, ele explica que deseja ir além dos bens materiais. “Não é herança de bens, imóveis, financeira, mas sim de conhecimento, de momentos, de memórias, de exemplos”, explica. Para ele, a coerência entre discurso e prática é essencial. “Quero ensinar ele a comer saudável, não é falar para ele, é ele me ver comendo saudável. Quero ensinar ele a ler, ele vai ter que me ver lendo livros”, exemplifica.
No centro dessa formação está a fé cristã, vivida em casa e ensinada com simplicidade. “Ele vai me ver estudando a Bíblia, vai me ver dando aulas bíblicas”, conta Adriano.
O pai como sacerdote
A Bíblia descreve o papel do pai como o de sacerdote do lar. Na prática, isso implica conduzir espiritualmente a família, assumindo a responsabilidade pelo ensino e pela direção moral da casa. “O sacerdote tem que ser a referência. É quem mostra qual é o caminho certo”, afirma Faustino. Ele conduz orações com o filho diariamente e, mesmo com menos de dois anos, a criança já é estimulada a recitar versículos bíblicos. “O sacerdote é quem ensina, quem repete, quem orienta, quem educa. Sei que, se eu não fizer essa minha obrigação bem-feita, posso ser cobrado por Deus por causa disso. Então eu valorizo muito isso”, resume.
Um olhar sobre Deus e sobre a própria mãe
Há aprendizados que só a prática revela. O amor paterno, para Faustino, trouxe uma nova percepção sobre o amor divino e, surpreendentemente, também sobre a maternidade. “Eu valorizo ainda mais a minha mãe pelo esforço que ela passou quando eu nasci”, conta, ao lembrar do relato da mãe sobre o cuidado com fraldas de pano fervidas em caldeirão com vinagre, por causa de sua alergia. Ao cuidar do próprio filho, ele passou a enxergar com mais nitidez as renúncias da mulher que o criou.
Mas foi na repetição das pequenas correções, nos alertas ignorados e nos choros frustrados que Adriano se viu face a face com a paciência de Deus. “Muitas vezes eu não deixo meu filho fazer as coisas, ele começa a chorar. E falo: a gente é do mesmo jeito. Deus não dá a coisa, a gente chora, reclama… Mas, no fundo, é para o nosso bem”, reflete.
O instante que permanece
Entre tantas mudanças, uma cena permanece como marco afetivo. “A primeira vez que ele olhou para mim, me chamou de papai e sorriu”, lembra. “Foi inesquecível”.
O testemunho de Adriano Faustino é apenas um entre os milhares de pais que veem na paternidade uma missão moldada por fé, rotina e vulnerabilidade. A figura paterna, longe de ser apenas um provedor, se torna um espelho diário das ações de Deus no cuidado com os filhos.
A Bíblia afirma que “como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece dos que o temem” (Salmos 103.13). Essa relação, observada em gestos cotidianos, ajuda a compreender, ainda que de maneira fragmentada, o amor que sustenta todas as coisas.
Fonte: Comunhão
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