O pastor Davi Nicoletti, fundador e presidente da Igreja Recomeçar, está sendo investigado pela Polícia Civil de São Paulo (PCSP) por supostamente utilizar sua igreja para lavar dinheiro proveniente de um esquema de pirâmide financeira envolvendo criptomoedas.
De acordo com relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), a conta bancária da igreja teria recebido mais de R$ 4 milhões do grupo suspeito em apenas um ano. Procurado, ele afirma que o inquérito será arquivado e declarou que o relatório do Coaf é “mentiroso”.
Com presença ativa nas redes sociais, onde acumula 72 mil seguidores no Instagram, Nicoletti defende a ideia de que os cristãos devem alcançar prosperidade financeira. Recentemente, ele viralizou ao dizer que “odeia pobre” e ao se referir ao presidente Lula (PT) como “ladrão”.
“Eu odeio pobre. E eu vou dizer que Jesus nunca foi pobre. E se te falaram isso, mentiram. Porque o pobre não é só pobre financeiramente, ele é vítima de alguém que o fez ficar pobre. Ele sempre entende que o mundo deve para ele, e a culpa é de quem tem mais”, disse Nicoletti.
No mesmo culto, transmitido pelas redes sociais, o pastor também afirmou que “tem um monte de cristão ladrão dentro da igreja que rouba o altar e critica a corrupção”. Após a repercussão, Nicoletti alegou ter sido mal interpretado.
Em entrevista ao UOL, explicou que não odeia pessoas pobres, mas sim a pobreza enquanto sistema de opressão. “Sempre preguei que odeio a pobreza, não o pobre. A pobreza mata sonhos, destrói famílias e impede que a pessoa viva o propósito de Deus. Minha mensagem é de libertação em todas as áreas, inclusive financeira”, afirmou.
Ele também pediu desculpas por ter chamado Lula de ladrão, dizendo que foi uma expressão pessoal de indignação e que não representa a posição oficial da Igreja Recomeçar. “Reconheço que não foi uma fala adequada. Peço desculpas. A igreja respeita a autoridade civil e preza pelo diálogo, mesmo em discordâncias políticas.”
Esquema de pirâmide financeira
Segundo documentos obtidos pela reportagem de Metrópoles, entre dezembro de 2018 e dezembro de 2019, a Igreja Recomeçar teria recebido R$ 4,03 milhões de um grupo criminoso investigado por comandar um esquema de pirâmide financeira com promessas de lucro a partir de investimentos em criptoativos.
“A fim de maquiar lastros do dinheiro arrebanhado de forma fraudulenta, tais pessoas enviaram dinheiro para a conta pertencente à Igreja Ministério Recomeçar, de propriedade do pastor Davi Nicoletti”, diz o relatório policial. “Também se apurou que as transferências não possuíam justificativas econômicas claras”, prossegue.
A MDX Capital Miner Digital LTDA, empresa acusada de liderar o esquema, já responde a diversas ações judiciais movidas por investidores que afirmam ter sido lesados. A empresa também é alvo de inquérito conduzido pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) por crimes de estelionato.
O MPCE, por sua vez, informou por nota que “atualmente aguarda a conclusão do inquérito policial instaurado pela Delegacia de Combate aos Crimes de Lavagem de Dinheiro contra a MDX. Na última movimentação do processo, a promotoria requisitou que a delegacia efetive diligências de investigação de crimes de estelionato e lavagem de dinheiro que ainda não tinham sido concluídas.”
Em uma das ações judiciais em curso, dois investidores alegaram prejuízos de R$ 200 mil após terem sido convencidos a aplicar dinheiro na MDX Capital. O contato com os membros da empresa, segundo eles, ocorreu durante um culto na Igreja Batista Comunidade do Amor, em abril de 2019.
O que diz o pastor Davi Nicoletti sobre acusação de lavagem de dinheiro
Procurado, o pastor Davi Nicoletti informou, por meio de nota, que o inquérito policial instaurado no estado de São Paulo para apurar eventual crime antecedente à suposta prática de lavagem de dinheiro foi arquivado por decisão judicial, após manifestação do Ministério Público reconhecendo a inexistência de indícios suficientes para a propositura de ação penal.
“Como é sabido, a lavagem de dinheiro exige a comprovação de um crime anterior (crime antecedente), o que, no caso, não ocorreu. Assim, a autoridade judiciária, com base nos autos e em conformidade com o Ministério Público, determinou o arquivamento do feito, nos termos do artigo 18 do Código de Processo Penal e da Súmula 524 do STF. Portanto, não subsiste nenhuma acusação criminal válida ou em trâmite contra a Igreja Recomeçar ou o Pastor Davi Nicoletti”, informou a defesa do líder religioso.
O inquérito arquivado, segundo a defesa, trata exclusivamente da atuação da MDX Capital. Já o procedimento relacionado ao possível uso da igreja como instrumento de lavagem de dinheiro continua em andamento, ainda sem desfecho, apesar de o Ministério Público ter solicitado o arquivamento.
Ao ser questionado sobre sua relação com a MDX Capital, Nicoletti esclareceu que um dos administradores da empresa frequentava a Igreja Recomeçar como um fiel comum, buscando apoio espiritual e aconselhamento.
“Essa relação nunca se confundiu com vínculos comerciais ou societários. O Pastor Davi Nicoletti não é, nem nunca foi, sócio, gestor ou beneficiário da MDX Capital Miner Digital, tampouco participou de qualquer atividade econômica da empresa”, prosseguiu.
Sobre o relatório do Coaf que aponta movimentação de R$ 4 milhões oriundos do grupo suspeito, o pastor foi enfático ao afirmar que a informação contida no inquérito é falsa:
“Essa alegação não está correta. No período mencionado nos autos (ano de 2019), a Igreja contava com 6 unidades ativas e, somando todos os membros das unidades (milhares de pessoas), as ofertas recebidas naquele ano não atingiram R$ 1,5 milhão. Quanto aos valores eventualmente transferidos por pessoas vinculadas à MDX se referem a pequenas ofertas voluntárias, como tantas outras realizadas por membros e frequentadores”, finalizou.
Folha Gospel com informações de Metrópoles e Fuxico Gospel
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