Um recente levantamento do Instituto Barna, dos Estados Unidos, revelou uma estatística alarmante: 18% dos pastores protestantes afirmaram ter pensado em autolesão ou suicídio no último ano. O dado, que assusta e entristece, evidencia uma epidemia de solidão e esgotamento emocional que se esconde atrás dos púlpitos e que, muitas vezes, passa despercebida pela própria igreja.
“Estamos diante de uma geração de líderes espirituais adoecidos em silêncio”, alerta a Dr. Ilma Lúcia Gomes Cunha, pastora, psicanalista e terapeuta familiar. Segundo ela, a cultura do desempenho e a ideia de que o pastor “precisa estar bem o tempo todo” impedem que esses líderes busquem ajuda. “Eles cuidam de todos, mas não se sentem autorizados a cuidar de si mesmos. Isso é extremamente perigoso”, afirma.
O estudo também apontou que quase metade dos pastores (47%) se sente solitária ou isolada. “Não é fácil a pessoa se confrontar com as suas vulnerabilidades e fragilidades. Até mesmo pela posição que a pessoa ocupa, entra, muitas vezes, em um distanciamento das suas próprias questões emocionais. É mais fácil fazer de conta que nada está acontecendo, passar uma imagem de forte, do que lidar com as fragilidades, observa Ilma Cunha.
Diante desse cenário, surgem iniciativas que buscam romper o silêncio e oferecer acolhimento específico. Uma delas é o aplicativo Touch Peace, uma iniciativa sem fins lucrativos que disponibiliza os “Conselheiros da Paz”, profissionais capacitados para oferecer apoio individual, imediato e sigiloso por videochamada. Mais de 100 mil pessoas no Brasil e em outros países já receberam atendimento.
“Muitas lideranças, inclusive pastorais, utilizam o Touch Peace. São pessoas de todas as esferas eclesiásticas, cristãs. Alguns mantém o anonimato, mas informam que desempenham um alto cargo de liderança, sem falar qual é a denominação”, informa o CEO do Touch Peace, pastor Marciley Neves.
A plataforma oferece recursos terapêuticos, conexão entre líderes, aconselhamento com psicólogos cristãos e espaços de oração. Uma das intenções é ensinar às pessoas que está tudo bem caso haja necessidade de apoio psicológico, afinal, somos humanos.
A Dra. Ilma reforça que apenas a terapia não é suficiente. “A cura da alma pastoral passa pela reconstrução de vínculos, pela formação de redes de apoio seguras, e pelo rompimento da cultura da invulnerabilidade. É urgente que as lideranças das igrejas se tornem parte da solução e não do problema.”
Enquanto maio, mês da conscientização sobre a saúde mental, nos convida à reflexão, a Igreja brasileira precisa fazer um exame profundo. O sucesso ministerial não pode ser medido apenas por números, mas pela integridade da alma de quem lidera afinal, ministério não é espetáculo, é vida e, vida, precisa de cuidado.
Artigo publicado originalmente em Comunhão
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