A presença das igrejas evangélicas na TV aberta encolheu significativamente em 2025, acompanhando o ritmo mais lento de crescimento revelado pelo Censo de 2022. Durante décadas, sobretudo entre os pentecostais, a compra de horários em grandes emissoras era uma estratégia central — mas isso está mudando.
Antes da pandemia, em 2019, as principais redes abertas da Grande São Paulo — Globo, Record, SBT, Band, RedeTV!, TV Cultura e TV Gazeta — dedicavam juntas cerca de 48 horas semanais a programas evangélicos. Atualmente, esse número caiu para 32 horas e 15 minutos. A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) continua sendo a maior investidora, respondendo sozinha por mais de 21 horas desse total.
A Universal mantém presença de destaque na Record — que pertence ao grupo liderado por Edir Macedo — com cerca de 4 horas e 15 minutos diários, especialmente na madrugada. O investimento, de acordo com balanços da emissora, gira em torno de R$ 900 milhões anuais. A denominação ainda compra outras quatro horas na RedeTV! e 13 horas na TV Gazeta, além de reservar 23 horas semanais em canais de menor audiência como a Rede 21 (ligada à Band) e a CNT.
Apesar da força da Universal, outras igrejas têm encolhido sua participação. A Igreja Internacional da Graça de Deus, do missionário R.R. Soares, reduziu seu tempo de exposição. Em 2018, ocupava cerca de 11 horas diárias; agora, são 7 horas e meia. O contrato com a Band — renovado até 2026 — também sofreu corte de valor: caiu de R$ 8 milhões para cerca de R$ 4,5 milhões mensais, após sua saída para dar espaço ao programa de Fausto Silva em 2022.
Silas Malafaia também revisou sua estratégia na televisão. Deixou de investir na Band e hoje mantém apenas 30 minutos semanais aos sábados na RedeTV!, pagando por isso em torno de R$ 600 mil. Já Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, praticamente desapareceu das grandes redes devido a dificuldades financeiras. Mesmo em canais menores, como a Ideal TV, sua presença é instável e já foi interrompida por falta de pagamento.
Uma surpresa recente nesse cenário é a Igreja Cristã Maranata. Originária do Espírito Santo e em crescimento desde os anos 2010, a denominação pentecostal conquistou três horas de programação combinadas entre Band e RedeTV!. Além disso, ousou anunciar até mesmo na GloboNews, tradicionalmente distante desse tipo de publicidade religiosa.
Menos dízimo, menos tempo no ar
No meio evangélico, o diagnóstico é claro: a pandemia de Covid-19 afetou fortemente a arrecadação via dízimos, obrigando líderes religiosos a repensar investimentos em mídia. Com menos recursos, as igrejas passaram a negociar contratos com mais cautela e foco em custo-benefício. Emissoras com baixa cobertura nacional, como a Rede NGT, perderam espaço para pequenos ministérios locais, deixando de ser viáveis para as grandes denominações.
Diante do novo cenário, muitos líderes têm migrado seus esforços para o ambiente digital. Valdemiro Santiago, por exemplo, mantém um canal no YouTube com 1,2 milhão de inscritos — um número que, segundo sua igreja, antes só seria alcançado com investimentos milionários na TV.
Enquanto as igrejas se adaptam às novas realidades econômicas e tecnológicas, o recuo na TV aberta mostra que o mercado de fé também está sendo reconfigurado pela lógica da sustentabilidade financeira e pela expansão das plataformas digitais. A mensagem permanece — mas os meios estão mudando.
Folha Gospel com informações de Folha de S. Paulo
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