Centenas de cristãos foram às ruas de Damasco, na noite da última segunda-feira (23), em uma manifestação comovente contra a crescente perseguição religiosa na Síria. O protesto ocorreu um dia após um atentado suicida devastador na Igreja Ortodoxa Grega de Santo Elias, que vitimou ao menos 25 fiéis e deixou dezenas de feridos durante um culto noturno.
O ataque, classificado como “hediondo” e “horrível” pelo Patriarcado Ortodoxo Grego de Antioquia, foi atribuído a um homem-bomba ligado ao grupo Estado Islâmico (EI), embora nenhuma facção tenha reivindicado oficialmente a autoria. Segundo testemunhas, o agressor abriu fogo contra os presentes antes de detonar os explosivos presos ao corpo.
Durante a marcha em Damasco, cristãos carregavam cruzes e entoavam frases de fé, homenageando os mortos e clamando por justiça. “Mantenha sua cruz erguida! O sangue dos cristãos é precioso. Somos soldados de Cristo”, bradaram. Em uníssono, proclamaram: “Com espírito, com sangue, atendemos seu chamado, ó Cristo!”.
Em nota, o Patriarcado exigiu que o governo sírio assuma “total responsabilidade” e tome medidas definitivas para proteger os cristãos e impedir futuras “violações da santidade das igrejas”. O atentado aumentou o clima de medo entre a minoria cristã, que já vinha sofrendo represálias desde a deposição do presidente Bashar al-Assad, em dezembro de 2024, e a ascensão de Ahmed al-Sharaa — um político ligado a grupos islâmicos radicais.
O atual governo sírio está sob o domínio de um grupo islâmico que surgiu como um desdobramento da Al-Qaeda. Eles foram uma das principais forças envolvidas na deposição do governo do líder secular Bashar al-Assad em dezembro passado.
Sob o governo Assad, os cristãos tinham relativa liberdade e presença em cargos de influência. Agora, especialistas alertam para um cenário de retaliação contra minorias associadas ao antigo regime, como alauítas e cristãos. “Vemos uma escalada preocupante da perseguição religiosa”, afirmou Martin Parsons, diretor do Lindisfarne Centre for the Study of Christian Persecution.
O CEO da Christian Solidarity Worldwide (CSW), Scot Bower, lamentou o atentado e pediu ao novo governo “resposta rápida e decisiva” à incitação sectária, garantindo proteção igualitária a todos os cidadãos sírios. Ele também apelou à comunidade internacional: “O governo sírio deve ser encorajado a lançar uma iniciativa de diálogo nacional para lidar com o sectarismo sem mais delongas”.
Após o ataque, o governo aumentou o policiamento em igrejas e bairros cristãos, mas há ceticismo quanto à sua real intenção. Um parceiro sírio da Portas Abertas afirmou que as autoridades estão apenas “fingindo proteger os direitos de todos na Síria”. Segundo ele, “a pressão da islamização está em todos os cantos do país”, deixando cristãos e líderes eclesiásticos em constante alerta.
“Este incidente fará com que os cristãos fiquem na ponta dos pés, esperando o próximo ataque”, declarou. Uma jovem cristã de Damasco confessou: “Perdi toda a esperança de que ainda houvesse alguma vida aqui para nós”.
A situação na Síria é especialmente grave: o país ocupa atualmente a 18ª posição na Lista Mundial da Perseguição 2025 da Portas Abertas. Desde o início da guerra civil, em 2011, estima-se que cerca de 80% da população cristã tenha deixado o país. O grupo Portas Abertas continua atuando em apoio às igrejas locais, oferecendo apoio pastoral e aconselhamento sobre traumas.
Folha Gospel com informações de Comunhão e The Christian Today
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